Pepe Angelillo e Juan Cruz Urquiza lançam CDs

Juan Cruz de Urquiza apresenta ‘Ultima Chance’

Fernando Ríos, argentjazz.com.ar, 27 /04/ 2022

Cada novo trabalho discográfico de Juan Cruz de Urquiza garante um encontro com o melhor jazz que se faz na Argentina. O recente lançamento de Última Chance, o disco que mais uma vez o coloca à frente de uma excelente formação, confirma as previsões. Seis novas composições originais, uma delas cantada pelo próprio Juan Cruz, definem o novo álbum.

O nome de Juan Cruz de Urquiza é um daqueles que invariavelmente se repete cada vez que se tenta um panorama do melhor que o jazz argentino deu nas últimas duas décadas. Seja como fundador do histórico Quinteto Urbano, como integrante dos combos de Guillermo Klein ou Paquito D’Rivera ou como líder de seus próprios grupos, com os quais tem conseguido manter um alto nível criativo. Agora, no início de 2022, o trompetista volta com um novo disco, Ultima chance, lançado pelo Club del Disco, o primeiro desde Lentes, disco que ele havia gravado ao vivo no CCK por volta do final de 2017 e incluía apenas canções de sua autoria.

Quatro anos depois, Juan Cruz reitera essa modalidade com este cd Ultima chance, também com um punhado de composições próprias, incluindo duas canções: Desencuentro, na voz do próprio autor, uma novidade em sua discografia, e aquela que lhe dá o nome de álbum com o papel principal da ascendente Juana Sallies.
Partindo do que poderia ser entendido como a tradição do jazz, o grupo expande seu horizonte aqui, com uma variada paleta de cores, climas e sonoridades, que privilegiam a sonoridade do grupo sobre as ricas individualidades que compõem a entrega.

De Medias Verdades, a música que abre o álbum, a mudança Esa tarde, com Lucas Goicoechea no sax tenor, a dinâmica Ilusión en la red, com um criativo Sebastián de Urquiza no contrabaixo e From afar, com suas paisagens de agradável melancolia, o álbum oferece uma gama temática variada, com amplas passagens agradáveis ​​de improvisação e a experiente contribuição de Ernesto Jodos e Sergio Verdinelli.

 

 

 

‘Resonar’: a liberdade criativa de Pepe Angelillo

Fernando Ríos, 25 /04/ 2022

Após seu álbum Geometry, de 2018, o pianista Pepe Angelillo volta a mergulhar na composição em tempo real, que já teve seu segundo capítulo em Improvisações de 2021. Agora, com Resonar, seu novo trabalho, Angelillo abandona o desafio do piano solo para navegar em águas não menos arriscadas. Liderando um trio completado por Mono Hurtado no contrabaixo e Carto Brandán na bateria, o pianista oferece um trabalho singular e imprevisível, onde a surpresa faz parte do repertório.

“A gravação de uma improvisação de jazz é a versão definitiva de algo que nunca pretendi que fosse definitivo“, disse o compositor Gunter Schuller. O registro de uma arte efêmera e espontânea, que ficará para sempre presa em um registro, ao qual se retorna a cada vez em busca de climas, sensações, detalhes.

E ali, naquela paisagem musical única e irrepetível, se inscreve Resonar, o sexto trabalho do pianista Pepe Angelillo como líder e o terceiro da série de composições em tempo real que começou com Geometria, seu álbum de 2018, um piano solo gravado em Espanha, ogo depois de fazer uma clínica com o maiorquino Agustí Fernández e que foi seguido por Improvisações de 2021.

“Posso dizer que o início de todo esse processo começa com o álbum Orillas, que fiz com Pablo Ledesma, Mono Hurtado e Martín Misa. Naquela época eu já ouvia muito material de improvisação livre e estava começando a me interessar muito por esses formatos e texturas compostas em tempo real, onde a improvisação é o motor. Tudo isso ficou mais interessante para mim”, disse Angelillo no início desse processo que agora se cristaliza neste Ressonar.

Mas ao contrário desses dois trabalhos iniciais, este novo álbum tem uma singularidade substancial no formato a partir do qual essas sete improvisações de estúdio são abordadas. Aqui Angelillo renuncia ao protagonismo total do piano solo, para mergulhar em um processo criativo compartilhado e em formato trio, ao lado de Mono Hurtado, seu parceiro em tantos desafios musicais, um dos mais sólidos e talentosos contrabaixistas da cena local e o sempre criativo Carto Brandán na bateria.

 

Utilizando o trio, a formação mais tradicional do jazz, Angelillo, Hurtado e Brandán aprofundam um caminho de ampla liberdade. Encadeando uma série de temas criados em tempo real, rapidamente alcançam a perfeita comunicação do grupo. Da abertura minimalista de Spoor, a primeira faixa do álbum, à profunda introspecção de Source, com a qual o trabalho se encerra, os três músicos se esforçam para manter viva a comunhão instrumental. Propondo novos caminhos,  respondendo com pronta criatividade a cada proposta e partilhando o tom, o clima e a emoção.

Embora os temas surjam da plena improvisaçã e do diálogo musical, estão longe da aridez nervosa que boa parte das composições desse tipo costuma ter. Aqui, e não é um fato menor, há melodias. Que, embora se tornem fugazes, nascidas do momento, os músicos são protagonistas. Como em Dreamer , onde o piano de Angelillo tece sutilezas emolduradas pela sensibilidade de Hurtado e Brandan.

O desenvolvimento de uma improvisação não precisa ser considerado um evento puramente aleatório, diz Ekkehard Jost, em seu livro essencial Free Jazz, traduzido por Omar Grandoso. E Resonar prova isso. Quando o acaso, a surpresa e a espontaneidade se sustentam aqui no talento, dedicação e paixão de três grandes músicos.

E assim se constrói uma arte que se enriquece a cada passo. Uma arte que certamente se envolve com a aparência. Com gestos mal delineados. Com a experiência comum de tantos cenários transitórios. Formam, a partir daí, um caminho único. Uma música espontânea, bonita e surpreendente.

Ressoar CD

José Enrique Angelillo : piano
Horacio Mono Hurtado : contrabaixo
Carto Brandán : bateria

Gravado em novembro de 2021 por Manuel Méndez no MTT Estudios
mixagem e masterização: Horacio Hurtado
https://discosicm.bandcamp.com
http://pepeangelillo.com.ar