Entrevistas

A arte e o Talento de Dudu Lima

Desde quando me esbarrei com Dudu Lima no Rio das Ostras de 2008, fiquei conhecendo a sua capacidade criativa nos altos improvisos que produzia em seus vários contrabaixos. De backstage em backstage, conseguimos agendar essa entrevista no Santa Jazz desse ano. Tomei por base o seu cd ’30 Anos’, que foi lançado em 2018. Como é um trabalho síntese de sua trajetória autoral, resolvi tomá-lo como referência para desenvolver as perguntas e daí mergulhar na sua história musical.

Wilson Garzon – Pelo que te conheço, parece que já nasceu tendo ao lado o contrabaixo. Foi realmente seu primeiro instrumento ou como foi o percurso até ele?
Dudu Lima – Realmente,eu comecei tocando contrabaixo desde os 11 anos de idade. Também toco um pouco de violão e piano.O contrabaixo foi o instrumento que me tocou e me levou para a música.

WG – Você é mais identificado com o baixo elétrico. Você utiliza o acústico? Você sempre gostou de ousar, experimentando vários tipos de contrabaixo?
DL – Na verdade eu comecei tocando contrabaixo elétrico; mas eu me identifico com os dois!!!Nos meus trabalhos eu sempre utilizo os todos os instrumentos: o contrabaixo acústico, o contrabaixo elétrico de seis cordas, o fretless e também o baixolão de 6 cordas.

Em meu mais recente dvd, que se chama Clássicos, foi gravado com o baixo acústico, o cd 30 anos, que é o mais recente, também tem o Acústico e o próximo trabalho que vou lançar também traz o nosso querido Contrabaixo acústico. No cd “Tamarear”, que gravamos com o Milton Nascimento também foi feito com o Acústico. Gosto de utilizar todos os instrumentos por ser apaixonado por esses sons maravilhosos gerados pelo Contrabaixo.

WG – Ano passado, você lançou o CD ’30 Anos’, com o repertório todo autoral, diferente do cd “20 Anos“, que continha apenas três autorais. Qual foi a razão dessa mudança? Dedicou-se mais à tarefa de compositor?
DL – O cd 30 anos, como era emblemático de todo esse tempo de carreira procurei, fazer autoral. Na verdade, sempre me dediquei à atividade de composição!!! Meus dois primeiros cds, Regina (1999) e  Nossa História (2002), são totalmente autorais.

Quando fui gravar o 20 anos, que era o terceiro cd e primeiro dvd, optei por gravar arranjos que tinha feito para compositores que admirava muito; porisso o repertório teve a presença de três autorais e a restante dedicado a arranjos para meus grandes ídolos.


WG –
Conte-nos um pouco sobre cada uma das dez composições que estão no cd 30 Anos.
DL –
Nossa História: composição de 2001, do cd Nossa História, é dedicada à minha esposa, Andresa. Essa música é uma balada no começo e no fim com uma salsa mineira no meio. Gravada com o Contrabaixo Fretless.
Pescador: composição de 2006, do cd/dvd Ouro de Minas, em parceria com o Ricardo Itaborahy (pianista do Dudu Lima trio), é dedicada aos semeadores da positividade e da fé. Essa música é bem mineira, com muitos vocais e muito melódica. Gravada com o Contrabaixo elétrico de 6 cordas.
Memórias: composição de 2002, está no cd/dvd 20 anos de Pura Música, é dedicada a todas as lembranças dessa estrada musical. É uma balada mineira bem progressiva. Gravada com o Contrabaixo elétrico de 6 cordas.
Oração aos Escravos: composição de 2017, inédita, é dedicada à memória dos escravos. É um canto mineiro com muita percussão. Gravada com o Baixolão de 4 cordas.
Belafonte: composição de 1995, está no cd Regina, dedicada ao trio Belafonte, que tive na década de 90. É uma melodia forte e progressiva, bem mineira. Gravada com o Contrabaixo fretless.
Tarde Azul: composição de 2018, inédita, é dedicada a uma tarde de muito som. É uma peça solo gravada no Contrabaixo Acústico, bem melódica.
Valsa para Putson: composição de 2000, gravada no cd Nossa História, é dedicada ao meu cachorro Putson, um super amigo que viveu 16 anos comigo. É uma valsa super melódica. Gravada com o Baixolão de 4 cordas.
Regina: composição de 1994, gravada no cd Regina, no cd/dvd 20 anos de Pura Música e no cd/dvd Ao vivo no Cine Theatro Central, com participação do Stanley Jordan, é dedicada à minha mãe Regina. É uma melodia mineira construída sobre uma harmonia de um blues menor. Gravada com o Contrabaixo Acústico.
Benito: composição de 2009, gravada no cd e dvd Cordas Mineiras, é dedicada ao meu filho Benito. É uma valsa jazz mineira. Gravada com o Contrabaixo elétrico de 6 cordas.
Rapadura é doce mas não é mole não: composição de 2001, gravada no cd Nossa História, com a participação do grande Hermeto Paschoal, dedicada ao grande baterista Márcio Bahia. É um frevo contemporâneo, que passa pelo jazz. Gravada com o Contrabaixo elétrico de 6 cordas.

WG – Junto com o Ricardo Itaborahy (piano) e Leandro Scio (bateria), vocês formam o Dudu Lima Trio, um dos combos instrumentais mais longevos do Brasil. Como foi montada essa parceria?
DL – Essa parceria vem de 30 anos de amizade e música, com muita verdade e respeito pelo trabalho que fazemos. Nossa vida profissional é resultado do que vivemos pessoalmente. A longevidade do trabalho, vem do resultado disso tudo que é o prazer e a felicidade de estarmos juntos. Temos como principal atividade o trio ao qual nos dedicamos e fazemos o centro de nossas vidas. O trio na verdade é o nosso projeto pessoal !!!


WG –
E as parcerias com Milton Nascimento, Stanley Jordan e João Bosco, como elas aconteceram? Elas são desenvolvidas em projetos musicais e festivais?
DL – Essas parcerias são o resultado de encontros maravilhosos que a música nos proporciona.
Eu comecei tocando com Stanley Jordan em 2001 e já são quase 20 anos de Stanley Jordan Trio, junto com o grande Ivan Conti (Mamão). Participei da gravação de 2 cds do Stanley e tive o prazer e a honra de produzir um novo trabalho dele que será lançado em breve com participações do Ivan Conti, do Dudu Lima trio, Emmerson Nogueira e outros grandes músicos, além da participação do grande Jorge Benjor.

Com o Milton Nascimento desenvolvemos uma parceria desde 2001. Ele já participou de dois cds e dvds do trio, além de termos gravado seu último disco lançado pela Som Livre que se chama Tamarear (está em todas as plataformas digitais). Fiz a produção e os arranjos deste trabalho, após uma tour de 2 anos que fizemos nas bases do projeto Tamar, além de outros locais.

O João Bosco também é um grande parceiro com quem fazemos shows há mais de 10 anos por todo o Brasil.  É muito bom poder receber estes grandes mestres e ídolos e trazê-los para o universo do trio. É um grande presente que recebemos do universo musical !!!

WG – O que você está projetando para os próximos anos? Pensa em apresentar um trabalho como solista?
DL – Todos os meus trabalhos são como solista. Tenho 11 cds e nove dvds onde atuo como compositor, arranjador e solista. Para este ano vamos lançar o dvd Som de Minas, gravado na Serra do Ibitipoca com a participação especial de Emmerson Nogueira. É um trabalho autoral e que tem duas composições de outros ídolos. Também vou lançar em breve o cd/dvd Concerto para Contrabaixo, com várias peças solo e participações  especiais.

WG – Como você analisa a atual música instrumental brasileira? Tem pensado em apresentar seu trabalho na América Latina e outros países?
DL – Sempre vejo com muito otimismo a música instrumental atual; temos participado de vários festivais por todo Brasil e entramos em contato com uma grande produção de compositores e arranjadores de norte a sul. Músico brasileiro é muito valorizado em todo o mundo.

Já levei minha música para os Estados Unidos, Portugal, Suíça, República Tcheca, Bélgica e Itália.  Fizemos um tour maravilhoso com o Dudu Lima Trio ano passado na Europa. Temos planos para mais uma tour internacional em breve e com certeza temos em mente planejar alguma coisa na América Latina.

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