Argentina

Enrique Peña lança seu novo disco: Intersticios

Um dos músicos que vem encantando as plateias na Argentina é o guitarrista colombiano Enrique Peña. O músico vive há mais de 16 anos em Buenos Aires, lugar que escolheu para desenvolver seus talentos como compositor e instrumentista, além de sua dedicação ao ensino na Escuela de Musica Contemporanea. Dois anos atrás anunciamos aqui o seu primeiro disco, Cronicas de Un Recuerdo, e tivemos a sorte de poder desfrutar um dos eventos de lançamento na época. O texto e a entrevista com ele estão disponíveis no final dessa matéria.*

Neste segundo semestre de 2021, em meio a crise econômica e mesmo com os efeitos da pandemia, Peña concluiu o novo trabalho, intitulado Intersticios, que vai lançar oficialmente neste mês de dezembro. O disco foi composto para o trio que reúne Enrique Peña nas guitarras, Inti Sabev no clarinete baixo e Juan Bayon no contrabaixo. Bayon tem longa estrada, muitos trabalhos no currículo e já foi assunto algumas vezes aqui no Clube de Jazz. Inti Sabev toca exclusivamente o clarinete baixo e soprano, e tem trabalhos recentes com Ernesto Jodos, Jorge Tordecillas e Carlos Casazza, entre outros. Sabev é músico muito atuante na cena portenha.

 

 

Esta formação vem sendo amadurecida ao longo dos últimos dois anos e se nota a dedicação com que se lançaram ao projeto. O disco difere do anterior que contava com sax tenor, contrabaixo e bateria. Agora está mais próximo da música de câmara, formato que agrada ao compositor Enrique Peña. A música dele dispensa demonstrações de virtuosismo, privilegia as composições as quais se dedicam com muito comprometimento. São oito temas, sete de autoria de Enrique Peña e uma composição de Inti Sabev.

01 – Incertidumbre abre o disco com bela introdução de clarinete e já nos insere no mundo de introspecção que vai imperar em todo o disco, A ele se juntam Peña e Bayon, o trio se esmera na sensível melodia, com elegantes solos de Penã e Bayon.
02 – Aguaneñado, composição que faz referencia a uma canção popular do folclore andino da Colômbia, uma característica na obra de Enrique Peña. Sugere a canção quase de forma incidental em algumas partes do tema mas apenas para o trio se divertir com a proposta de criar em cima da melodia, com muitas variações e improvisos.
03 – Paysandu, começam com um duo guitarra e contrabaixo em ritmo marcado e tonalidades variantes, . A partir daí um belo duo de clarinete e contrabaixo, a guitarra se junta suavemente até assumir o solo que vai se estender até a parte final, quando os três retomam o ritmo do começo.
04 – Gris (em português, cinza ou cinzento) é o quarto tema e tem um clima lento e as vezes melancólico, como um filme triste e belo num dia frio. Aqui Bayon usa o arco e com Sabev formam uma linha que acentua a sensação de pesar, acompanhados sutilmente por Peña, que vai assumindo o protagonismo , preparando o retorno à ideia inicial, e encerram o tema.

05 – Lundi, de sonoridade mais ágil e brilhante, Sabev toca o soprano e dá outras cores à música que ouvimos até aqui. Eles entram numa dança como uma valsa a três, discretos solos e duos de clarinete e guitarra.
06 – Archipelago é o sexto tema, composição de Inti Sabev. O clarinete baixo conduz a conversa entre os três, uma dança muito elegante, com clímax num belo solo de Peña.
07 – Paraguas mojado, e aqui a veia mais contemporânea deste trio mostra sua cara, com elegantes atonais, variações de andamento e improvisos coletivos, tudo com a incrível suavidade que eles fazem questão de manter no disco inteiro!
08 – Encerrando o disco, a composição Un sueño olvidado, que conduz mais uma vez a um clima de certo pesar, enfatizado pela linha melódica de guitarra e baixo, acompanhados por graves soturnos do clarinete, um convite a introspecção que percebemos em todo o disco, ora dos próprios músicos buscando algo, e com certeza convocando o ouvinte a mergulhar na busca.

 

O trio de Enrique Peña despejou muita sensibilidade neste trabalho, impregnado de bom gosto, criatividade e muita interação entre os componentes. Um belíssimo trabalho que valeu a pena esperar. Como dissemos na entrevista passada, este trio já estava tocando na época de lançamento do disco anterior, e adiantou composições que agora ouvimos em registro. Generoso com sua própria produção musical, Enrique já vem se apresentando com um quinteto, e um novo trabalho já está em marcha. Mas isso é assunto para uma próxima oportunidade.

 

*Matéria publicada no dia 15/11/2019

Enrique Peña apresenta ‘Crónica de un Recuerdo’