Carlos Malta fala sobre o tributo a Gil: ‘Suíte Tempo Rei’
Ao todo, o projeto traz 40 músicas e Gil participou de oito faixas distribuídas nos quatro discos.
“Até fizemos uma música em parceria. Aquelas coisas que acontecem no estúdio. Tivemos a oportunidade de gravar com instrumentos étnicos, com flautas japurutu, que é da tribo do povo tucano, do Alto do Rio Negro. Fizemos uma canção inspirada nessa luta que o indígena trava desde o descobrimento do Brasil. Ela se chama ‘Xamã Xapiri”
.(O violonista gaúcho Yamandú Costa é o outro convidado do disco, participando da música “Yamandu”, composta em sua homenagem pelo próprio Gilberto Gil.)
“Foi ele quem escreveu a letra para a melodia do Moacir Santos (1926-2006), que é a música com a qual abrimos o nosso show. Na realidade, o projeto é uma viagem na obra de Gil, com aquela visão de uma pessoa que tocou durante um tempo com ele. E eu ficava sempre imaginando como seria aquela determinada música na concepção da banda Pife Muderno. Por exemplo, tinham canções que a gente tocava e que eu pensava como elas ficariam com os nossos arranjos e interpretação.”
“Ele foi sendo construído aos poucos e a forma dele ser realizado foi interessante, porque foi uma soma do gosto musical meu com o da minha companheira, Daniele Yanes. Ela tem feito os vídeos e dado uma atenção especial a essa parte. Eu e ela fizemos uma lista do que cada um gostava e as comparamos. Mostramos o repertório final para o Gil, que adorou.”
Na estação
Segundo Malta, ele havia pensado em fazer o projeto em forma de suítes para ficar conciso e, ao mesmo tempo, abrangente. “Fiz, então, a concepção musical do projeto. Dentro dessas 40 faixas, tem algumas que gravamos como se fossem somente uma chamada, uma vinheta. São certas introduções e melodias de Gil muito marcantes e que colocamos como se fossem rifs”.
“Os nossos outros álbuns saíram do palco para o estúdio, com o objetivo de registrar aquilo que estava sendo tocado. Estamos lançando o ‘Tempo rei’ e daqui a pouco lançaremos o ‘Suíte primazia’ e Suíte festa’. Os discos já estão todos prontos, mas a gente vai lançar aos poucos. Fizemos 12 clipes, enfim, é uma produção grande e tudo com imagens que conseguimos captar do estúdio. No final do ano, teremos pronta uma coleção de clipes que dá para fazer um documentário do trabalho. Eu e Daniele estamos nessa empreitada de produzir essas coisas e fazer acontecer.”
“Infelizmente, essa foi a última gravação do nosso querido baterista e percussionista, que arrasou nas gravações. Ele morreu no início ano, vítima de problemas no coração. Era um parceirão e temos feito uma homenagem para ele nos shows, com projeções do Gil e imagens do Bolão tocando.”
“Já estamos rodando com ele por várias capitais e agora estamos esperando o convite dos mineiros. BH tem um público muito querido do Pife Muderno. Muita gente nos manda mensagem, perguntando quando iremos a BH, onde tem até o bloco de pífanos do querido André Siqueira. BH tem uma juventude pifeira muito atuante.”
“Daqui a pouco estamos chegando a BH. Temos que voltar em breve, pois fizemos shows memoráveis na capital mineira.”
Edu Lobo
Malta revela que o grupo tem a intenção de “pifemudernizar” outros compositores, como Edu Lobo.
“Tocamos algumas músicas dele e Edu já está na nossa mira. ‘Ponteio’, ‘Arrastão’, ‘Corrupião’, ‘Zanzibar, ‘Upa neguinho’ e ‘Casa forte’ podem ser ‘pifemudernizadas’ espetacularmente. O Pife Muderno tem essa versatilidade para fazer as leituras. Por exemplo, nesses discos, eu e Andréia tocamos flauta baixo e a linha delas meio que fazem o movimento harmônico do violão de Gil. Então, teve essa coisa de conceber um instrumento que nunca esteve nessa função no som do Gil e que também não tinha no nosso, porque não temos violão.”
“Fiquei uns dois ou três meses ‘ruminando’ essas músicas todas na flauta baixo para poder criar os rifs, as linhas de baixo, características de flauta. Não estava querendo tocar o baixo com a flauta, mas usá-la para conduzir uma voz de contracanto, foi desafiador, mas, ao mesmo tempo, divertido demais, pois aprendi um montão de coisas, tocando essas canções de Gil.”
“Continuamos produzindo, vivendo feliz, com cada um fazendo as suas coisas. Entramos em um acordo e não vamos colocar um substituto para o Bolão. Na verdade, a função dele ficou dividida entre o Bernardo e o Suzano. Ambos colocam uma caixa, um prato, um triângulo ou alguma coisa que o Bolão faria.”
Novas gerações
Para Malta, o pífano passa por um processo de ser redescoberto pela nova geração.
“Acho que esse trabalho que estamos fazendo com as músicas do Gil vai nortear muito essa juventude”, acredita. “A musicalidade da galerinha mais jovem que está tocando pífano, ouvindo esse trabalho, vai levar e trazer novas as ideias para as pessoas. Justamente como tocar com uma banda de pífano e não só o repertório tradicional. O próprio Gil colocou que até as músicas dele menos óbvias, como ‘Realce’ e ‘Extra’, ficaram muito legais. Ele adorou a forma como a gente as apresentou. São coisas que têm essa sonoridade rústica, dentro dessa composição, ela só não era revelada dessa forma.”