Chame o João Senise!

Sinto-me feliz em estar presente durante o desenvolvimento da carreira de João Senise. Desde quando se apresentou como cantor de jazz dentro da cena musical brasileira, já sabia que tínhamos em mãos uma joia vocal cuja tendência seria evoluir a cada trabalho apresentado. João Senise, lança “Chama o Síndico”, baseado no repertório de Tim Maia, seu sexto trabalho, tendo Eliana Peranzzetta na produção e Gilson Peranzzetta, nos arranjos e direção musical.

Wilson Garzon – Depois de cd dedicado a Sinatra, você lança “Influência do Jazz”, uma claro tributo ao samba jazz, interpretando músicas que abrangem mais da metade do repertório do cd. Por outro lado, você sai fora do contexto e grava canções de Charles Trenet, Bruno Martino e Burt Bacarach. A ideia aqui era explorar outros ritmos e/ou cantar em outros idiomas?

João Senise – Exato. A ideia era mostrar que a música é uma troca de referências, experimentos e influências. Por isso o nome do CD ser “Influência do Jazz”. O gênero americano “contaminou”, no bom sentido, a bossa-nova e a mpb, e vice-versa. João Gilberto gravou lindamente Estate no disco Amoroso, com arranjo do Clauss Ogerman. Diana Krall gravou The Look of Love em versão bossa. E por aí vai.

WG – Na sequência, você lança “Love Letters”, com canções de gênios como Rodgers & Hart, George & Ira Gershwin, Sammy Cahn & Jule Styne, entre outros. O conceito desse trabalho já tinha pensado quando estava gravando Sinatra?

JS – Não; o conceito surgiu logo após o lançamento do Influência do Jazz. Eu queria voltar ao universo do jazz, que adoro, mas com um novo foco. E aí tive essa ideia de reunir músicas que falavam de amor (a maioria baladas) para esse novo CD. Dei o nome de Love Letters ao disco pois essa música traduz perfeitamente o conceito do projeto. 

WG – Em fins de 2018 você lançou seu último trabalho “Chama o Síndico“, baseado no repertório de Tim Maia. Foi mais desafiador que gravar Sinatra? Como você ajustou sua voz para essa missão, uma vez que seu canto explora uma região mais lírica?

JS – Acho que foram desafios diferentes. O Sinatra é a minha praia, mas tinha o peso do tributo ao The Voice. No caso do Tim, o desafio era trazer o seu repertório para o meu universo, com uma nova roupagem, mas sem descaracterizá-lo. O disco não é um cover. Pelo contrário. É uma releitura da obra do Tim. E acho que o maestro Gilson Peranzzetta fez isso muito bem com os arranjos inéditos. A preparação vocal não foi tão intensa pois grande parte do repertório escolhido foram baladas, que é meu “porto seguro“. O maior desafio, sem dúvida, foram as músicas mais pop, mas acho que o resultado ficou muito bacana, modéstia a parte.

WG – O repertório foi difícil de ser definido? E a formação da banda? Conte um pouco sobre as participações especiais.

JS –   Foi mais fácil do que pensei, pra ser sincero. Como a ideia era uma homenagem ao Tim Maia cantor (não necessariamente compositor), o leque de opções ficou amplo. Além disso, várias músicas do Tim não têm a menor graça, exceto quando cantadas por ele. Já imaginou gravar “Do Leme ao Pontal“, por exemplo? A composição tem uns cinco versos e uns três acordesrs... Só funciona na voz do Tim.

  A banda base é formada pelo Gilson Peranzzetta (responsável pela direção musical e arranjos de todos os meus CDs), Adriano Giffoni (baixo elétrico), Ricardo Costa (bateria) e Mingo Araujo (percussão). Os baixistas Zeca Assumpção e o Filipe Moreno fazem participações especiais.

Os instrumentistas convidados são: o meu pai, Mauro Senise, o gaitista Rildo Hora e o grupo instrumental Cama de Gato (Jota Moraes assina o arranjo da música Lindo Lago do Amor).

E ainda tive a honra de contar com três cantores da nata da música brasileira: Áurea Martins, Ivan Lins e Leny Andrade. Como diria Wilson das Neves: ô sorte!

WG – Quanto tempo demorou a gravação? Do estúdio até o lançamento quanto tempo levou? 

JS –   A gravação em si, foi bem rápida, como é costume nos meus trabalhos. Em torno de dez dias gravamos as bases, vozes e complementos. A gente ensaiava bastante para não ficar perdendo tempo no estúdio. O que levou mais tempo foi a liberação das músicas, por conta do direito autoral e a mixagem, pois gosto de ouvir muitas vezes antes de dar o ok final. Aliás, tem até uma brincadeira entre músicos/artistas que é: mixagem não termina, você é que desiste!  rsrs.Entre o primeiro dia de estúdio e o primeiro show, foram cerca de 10 meses.

WG – Como foi o período de lançamento do cd? E quanto à repercussão crítica?

JS – O ponta pé inicial foi dado nesse ano, no dia 14 de fevereiro, no Teatro Rival Petrobras do Rio de Janeiro. Foi um show super bacana, onde consegui juntar quase todos os convidados especiais que participaram do CD. Agora, estamos negociando shows para outros estados, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Fortaleza, mas ainda sem data fechada. A recepção por parte da crítica tem sido boa de um modo geral.

WG – Quais serão seus próximos projetos? Você já ficou tentado em experimentar o scat e o vocalise?

JS –   O próximo projeto é um álbum em parceria com a Áurea Martins. Vai se chamar “Quase 50“; uma brincadeira com a nossa diferença de idade, que é de 49 anos. Fechamos o repertório no fim de fevereiro (basicamente mestres da música brasileira, como Caymmi, Djavan, Jobim, etc) e devemos entrar em estúdio no início do segundo semestre.

   Eu curto o scat, mas não é a minha praia. Melhor deixar pra quem sabe fazer. rsrs

WG – Dentro da cena atual da cena brasileira, que revelações vocais você destacaria como imperdíveis ou para ficar atento?

JS – Pergunta difícil, hein? rs. Sem parar pra pensar muito, posso citar o Ayrton Montarroyos. E, do pessoal mais novo, digamos assim, curto muito o Alfredo Del Penho e o Moyseis Marques. Mas eles não podem ser enquadrados em revelação, né? O que me leva a conclusão de que precisamos de uma nova safra de cantores no país.

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