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Duo Foz explora o diálogo entre a guitarra e o vibrafone

Bruno Matheus, jornal ‘O Tempo’, 16/09/2021

A história do Duo Foz começa de maneira despretensiosa. Em julho do ano passado, o guitarrista PC Guimarães convidou a percussionista Natália Mitre, com quem mantém parcerias desde 2014, para uma apresentação em um festival online, o Uno|Duo. Ela, com seu vibrafone, se juntou ao músico e o resultado do show, composto basicamente por canções de autoria de PC, encantou o produtor Alexandre Andrés, que imediatamente lançou a ideia no ar: a parceria pontual deveria gerar algo maior, definitivo.
Até podemos dizer que ele criou o Duo Foz”, comenta PC.

Logo após o show, ele e Natália Mitre mergulharam em um mês de ensaios e composições de arranjos. Depois desse laboratório, a dupla passou por uma intensa imersão de pouco mais de uma semana no Estúdio Macieiras, de Andrés, produtor do trabalho, localizado em uma fazenda do interior de Minas. Agora, um ano depois, a ideia vira disco. Nesta quinta-feira (16), chega às plataformas digitais “Interseção dos Mundos”, estreia fonográfica do Duo Foz.

 

O álbum traz uma releitura de “Drão”, de Gilberto Gil, que recebeu o prêmio de melhor arranjo na 20ª edição do BDMG Instrumental, realizada em julho, e outras sete faixas autorais – todas elas com registros audiovisuais – que exploram as possibilidades do diálogo entre a guitarra e o vibrafone, formação rara na música popular brasileira.

 

 

PC e Natália até tocam esses instrumentos no Sem Receita, grupo que conta ainda com baixo, bateria e sax, mas reuni-los em um duo é bastante peculiar, instigante e desafiador para os músicos. “Por ser em um duo, a coisa fica mais específica ainda. Para nós, esse projeto soa como uma oportunidade de experimentar e descobrir novos sons. Quando é só guitarra e vibrafone a perspectiva muda. Nessa soma, a gente acaba chegando em outros elementos”, observa PC.

É uma novidade para a gente também”, diz Natália, que se dedica ao estudo do instrumento há uma década. “Mas, ao mesmo tempo, é animador. Precisamos sempre lapidar o lugar onde cada um está tocando, qual é a região de frequência. Experimentamos muito para nossa música se completar, preencher os espaços. Foi um processo de autoconhecimento musical”, completa a musicista.

Promover o encontro entre guitarra e vibrafone é só o começo do Duo Foz. PC Guimarães e Natália Mitre já pensam em novos projetos e composições. A instrumentista, inclusive, já começou a experimentar sons com pandeiros, berimbaus e pedais. “Vamos explorar ritmicamente nossas referências de música popular brasileira e pensar como trazer essa linguagem para dentro da música do duo”, diz Natália Mitre.

O fato de o Duo Foz ter surgido e acontecido de forma tão rápida e intensa – em menos de dois meses o álbum, gravado ao vivo no estúdio sem técnicas adicionais, estava pronto – é visto como um ponto positivo na marcha criativa da dupla. “Foi um processo de imersão mesmo, até por questões da pandemia tínhamos que ter muito cuidado. Levantar um disco em um mês dá muito trabalho, mas essa intensidade e esse mergulho fizeram muito sentido pela proposta musical. Ficou muito bem amarrado. Gravamos ao vivo, na mesma sala, querendo captar essa emoção do momento”, lembra o guitarrista.

Natália Mitre conta que ela e o parceiro entraram em estúdio com músicas ainda não finalizadas: “Fizemos muita coisa em pouco tempo. Fomos para o estúdio um pouco verdes e isso foi muito interessante, um novo processo. Quando tocamos pela primeira vez, sem ter tempo de fazer shows, a entrega, atenção e presença foram muito fortes”.

Estreia

Interseção dos Mundos” é o primeiro lançamento do Grão Discos, selo belo-horizontino fundado em 2021 por PC Guimarães, Natália Mitre, Alexandre Andrés, Octavio Cardozzo e Lucca Mezzacappa, e que ainda este ano colocará no mercado trabalhos de outros artistas, entre eles André Mehmari, Cristian Budu, Artur Andrés, do Uakti, Toca de Tatu, Sem Receita, Gabriel Bruce, Arcomusical Brasil e do próprio Alexandre Andrés. “Queremos trazer ainda mais artistas e colocar a música de Minas para além das montanhas”, pontua PC.