Entrevistas

Erik Escobar, com a cara e a coragem!

Desde quando comecei a divulgar a obra do baterista e compositor Igor Willcox, entrei em contato com a arte de improvisação do tecladista Erik Escobar. No final de 2020, Erik lançou seu primeiro trabalho autoral, mas devido à pandemia, só agora pude entrar em contato. Propus imediatamente a Erik fazermos essa entrevista. Nela podemos entrar em contato com a história e carreiras musicais desse músico, compositor e arranjador talentoso. Bem vindo, Erik Escobar!

Wilson Garzon – O piano foi realmente o seu primeiro instrumento? Que escolas/professores você destacaria como importantes na sua formação?
Erik Escobar – Meu pai, Freddy Escobar, foi a pessoa mais importante na minha vida no período de minha iniciação musical. Foi através dele que tive acesso aos instrumentos musicais e ao universo da música. Os ensaios da sua banda aconteciam lá em casa, desde quando eu estava na barriga da minha mãe…
E foi por sua causa que fui para o palco e para a estrada tocando profissionalmente a partir dos 11 anos de idade. Mas, o meu primeiro instrumento foi bateria, uma Pinguim, que meu pai tinha na banda. Eu devia ter uns 5 ou 6 aninhos nessa época, era um bebê, e ficava tocando com o disco do RPM rodando, rsrs. Mas aos 10 anos eu abandonei totalmente a bateria e me enveredei para o teclado e com ele estou até hoje.

Com relação ao professor, a minha formação foi a de autodidata, Wilson. “Inicialmente veio tudo do baile mesmo, rsrs”, e também de orelha, ou seja, da curiosidade. Bons programas musicais rolavam na TV da época, como “Free Jazz Festival”, “Hollywood Rock”, programa “Ensaio”, entre outros (e até mesmo o Faustão na época e nas rádios também se tocava música de boa qualidade). Via as aulas de vídeo do Chick Corea, discos, VHS’s e fitas K7 de grandes artistas, que outros músicos mais velhos e mais experientes compartilhavam comigo…

Tive essa sorte ao longo de minha vida. Mas, aos 18 anos, tive um grande e brilhante professor, com o qual estudei apenas 8 meses, mas os seus conhecimentos ecoam na minha vida até os dias de hoje! Um grande pianista em minha memória: Marco Antônio Ferrari, de Campinas. Muita saudade do Marcão! Que Deus o tenha! Ele “arrumou a casa”, me botou no caminho certo. Gratidão eterna!

WG – E o jazz, quando foi que ele bateu à sua porta? A sua escolha foi sempre mais o teclado ao invés do piano?
EE – Vou responder ao contrário. Meu pai tinha sintetizadores que eram usados na banda, e ficavam montados lá em casa quando não tinha baile. Como não tínhamos piano em casa, eu comecei a tocar nesses teclados, por força das circunstâncias. Eu mudei o meu jeito de tocar de tecladista para pianista, que é um outro jeito de tocar, digamos, mais complexo, mais abrangente, tecnicamente falando.

Eu mesmo quis um teclado de 88 teclas com o peso de piano. Eu o comprei com a grana que ganhava fazendo baile (eu queria tocar piano...).Na adolescência, comecei a pirar com os pianistas de jazz, em razão dos solos e improvisações. Primeiro, foi através de um disco do Joe Sample chamado Spellbound, que um grande amigo da família gravou para mim quando eu ainda tinha uns 12 ou 13 anos. Não se tratava exatamente de um disco de jazz, mas flertava muito com o jazz pelo fato de ter muito solo de piano, acordes mais sofisticados, grandes músicos tocando e tudo mais… Um disco incrível!

E depois veio o Chick Corea Elektric Band, que era um sucesso absoluto na época. Mas o grande divisor de águas mesmo na época, foi um disco do Keith Jarrett chamado Changes, que eu ganhei de um amigo querido e professor de música na minha cidade natal, Sumaré, o “Carlinhos também em memória”. Eu tinha 13 anos nessa época. Ou seja, o jazz entrou na minha vida ainda na adolescência, então, fui conhecendo outros artistas e suas discografias, na medida do tempo em que eu ia crescendo, tocando e convivendo com outros músicos mais experientes do que eu, e, é assim até hoje.

 


WG –
Em 2006, você lançou junto com Igor e Chico Willcox o álbum “New Samba Jazz”. A ideia foi fazer um trabalho conceitual? Foi bem recebido pela crítica?

EE – Sim, gravamos um disco de música brasileira, mas com a mente e o coração abertos às outras influências que nós temos, sobretudo do jazz e da música fusion dos anos 70. Um som mais aberto, não tão “purista”. Aliás, não tenho nada de purista no que se refere à música, sabe, Wilson? Eu gosto da música universal! Sou brasileiro mas gosto de rock, funk, fusion, world music, latin jazz, pop… A união de todas as músicas.

O disco New Samba Jazz saiu pela Altrosuoni Records, (um selo de jazz independente hoje pertencente à PBR Records LTDA, na Suíça). Em relação à crítica, não me lembro muito bem mas, me parece que foi bem em alguns países da Europa, Japão e EUA. Uma vez um amigo me ligou de algum lugar da Alemanha me dizendo que havia encontrado o New Samba Jazz numa loja de CDs por lá. Achei o máximo!

WG – Você participou dos dois primeiros cd’s do Igor Willcox 4: # e Live. Esses trabalhos significaram um avanço de criatividade na sua carreira?
EE – Sem dúvida! O Igor é um músico espetacular, um dos melhores desse país! Um cara muito talentoso e criativo, uma pessoa com um QI daqueles “130 pra mais” rsrs, sabe? Um cara que estimula a criatividade do músico que toca com ele, uma das pessoas que mais me apresentou música do mais alto nível existente na face da terra. Um irmão de música e de vida que eu tenho, amo esse cara! Tenho muita gratidão por ele, com quem aprendi e ainda aprendo muito!

WG – Quando começou a pensar em gravar seu primeiro álbum autoral, “Erik Escobar”? O conceito desse disco já veio pronto?
EE – A inspiração para gravar esse disco veio decorrente de algumas experiências que eu passei na minha vida “um sequestro relâmpago horrível que me gerou uma série de sensações e certezas desagradáveis” e depois, logo na sequência, uma turnê muito legal que eu nem imaginava que iria acontecer com a ex-dupla Sandy e Júnior. Experiências entre boas e ruins, dentro de um mesmo ano que culminaram com as inspirações que me levaram a compor essas músicas e gravar esse disco. Mas enfim, é um disco inspirado nas experiências de vida que passei, sobretudo em relação ao amor que tenho por minha família, meus amigos, pela música, pelos músicos que tanto me influenciam e pela vontade que tenho de viver e tocar.

 

 

WG – O repertório é composto por sete obras pessoais. As homenagens a Rubalcalba e ao Weather Report são tributos à duas das suas maiores influências? E quanto ao “Mr. Simon”?
EE – Sim, são obras pessoais, e sem dúvida presto uma humilde homenagem a alguns dos meus principais heróis. Entre eles estão Gonzalo, Zawinul, Wayne , Jaco Pastorious, Peter, Acuna, e todos que fizeram parte da Weather Report. E também ao Hermeto, Herbie, McCoy, Chick, Ivan Lins… afinal de contas, tudo o que eu toco, de certa forma “vem deles”, rsrs.
E Mr. Simon é uma homenagem ao baterista Simon Philips, ao David Paich e, todos que fizeram parte do Toto, que é uma das bandas que eu mais gosto no “universo do Pop e do Rock and Roll”, mas é principalmente uma homenagem ao Simon.

WG – Em relação à “Taffa”, “Yasmin”, “Sequestro Relâmpago” e “Paradoxo”, como foi o processo de criação de cada uma delas?
EE – Taffa foi a última música que eu compus e era inicialmente para ser de um jeito mas, eu a mudei toda depois, kkk. Só ficou valendo a batera, o baixo e a percussão. Fiz uma outra música em cima, rsrs. E, na hora de reger o Igor, referente à entrada do solo de batera, então eu disse a frase do Galvão: “Vai que é sua Taffarel!”. Aí virou aquela “risadaiada” no estúdio e a acabei batizando de “Taffa” e dedicando-a ao Taffarel.
Yasmin é minha filha, o maior amor da minha vida! Eu fiz essa música dedicada a Yasmin sendo ela toda inspirada dentro do estilo “YellowJackets“, que é também uma das bandas que mais amo.
Sequestro Relâmpago foi a primeira música que eu compus, logo após o episódio ocorrido. Foi uma inspiração bem triste e ruim, mas a música ficou bonita.
Paradoxo foi a segunda música que eu compus, alguns dias depois, num estado de “um mix de tristeza profunda e puto ao mesmo tempo”, inspirado num paradoxo mesmo. Que é a decadência humana, um pensamento que me acompanhou por meses e ainda tem me acompanhado, de “como pode um ser humano ser capaz de fazer maldades para com o próximo? Passar o outro para trás de maneira desleal para obter vantagem sobretudo financeira? O governo cobra os impostos mais absurdos do mundo e não devolve de forma justa referente ao que é cobrado, saúde, educação, segurança, qualidade de vida etc. E muitas coisas mais, como racismo e supremacia branca, entre outros paradoxos da humanidade.

 

 

WG – E quanto ao seu processo de criação e de gravação?
EE – As vezes eu ouço música de outros artistas que de certa forma acabam me inspirando a começar a compor, e eu crio a música toda em MIDI, gravo batera guia, baixo guia, sax guia etc. E assim vai o meu processo de criação.
No processo de gravação, eu utilizei os seguintes equipamentos: Yamaha DX7 IID, Yamaha DX7 S, Yamaha KX88 como controller com samplers do Kontackt (rhodes, piano acústico etc.), Yamaha SY77 e Nord Electro 6HP. Sou apaixonado por esses teclados…

WG – A escolha dos músicos creio que não tenha sido uma tarefa das mais difíceis…conte um pouco sobre eles.
EE – Convidei os músicos com os quais tenho profunda admiração, tanto no quesito de talento musical, identidade e quanto às questões humanas. São eles:
Igor Willcox (baterista)
Um músico fenomenal, genial, de um conhecimento absurdo de música e um jeito muito particular de tocar! Tenho uma ligação humana muito, muito grande com o Igor, que é um ser humano maravilhoso, um irmão meu de música e de vida. A gente tem uma história de vida e de música juntos, Wilson. Nós fizemos baile juntos com a banda Sta Maria. E nós fomos do baile para o Jazz juntos! Isso desencadeou muitas outras coisas legais que fizemos no universo da música. Eu devo a ele muito do que eu sou hoje como pessoa e também do que conheço de música.
Glecio Nascimento (baixista)
É um músico espetacular, uma sumidade e também um ser humano maravilhoso! Tive e tenho a imensa alegria de ter a sua amizade, que é um cara de um talento tão incrível e com uma história tão incrível que ele teve para chegar onde chegou: é uma pessoa carinhosa, humilde e doce, só tem tamanho. Toca um absurdo!
Josué Lopez (saxofonista)
Josué também é um cara incrível como ser humano e um músico espetacular, jovem e muito talentoso. Eu, Josué e André Vasconcelos (baixista) tocamos juntos uma vez no Maranhão num projeto do baterista Isaías Alvez e nunca mais esqueci o som dele! Fiquei apaixonada pelo som e pela sua pessoa!
Chrys Galante (percussionista)
É também outro cara que eu adoro! Um cara leve, alegre, engraçado e muito, muito talentoso, criativo e cheio de swing! Tocamos juntos com o trombonista Bocato durante um ano e fiquei fascinado pelo seu som e energia. Um cara e um músico incrível.
Resumindo:
toda essa maravilha com que me referi à cada um deles, mas principalmente pela questão de “um resultado estético sonoro” que eu tinha na cabeça quando comecei a conceber essas músicas. Eles tem o som, o jeito de tocar que imaginei soando nas músicas desse disco.

 

 

WG – Indo um pouco para seu lado professor, como andam as aulas e workshops? Você também ministra cursos e workshops? Tem feito ou está programando Lives?
EE – Eu estou neste momento desenvolvendo um curso on-line, onde compilei todo o conteúdo que fui acumulando em termos de conhecimento ao longo desses 30 anos de estrada, algo a que eu chamo de “ingredientes que utilizo na minha música, na maneira de tocar”. Nunca tive e não tenho a intenção de ser professor. Meu lance é palco, tocar, ir para estrada e fazer show, produzir, compor, gravar, áudio, estúdio e mixagem. É nisso que estou conectado.

O que estudei em termos de teoria, foi para que viabilizasse tocar as coisas que sinto no coração advindo das influências que tenho. Mas resolvi fazer isso até mesmo porque o mundo do show mudou completamente após a pandemia, e talvez nunca mais volte a ser o mesmo. E não sei fazer outra coisa que não seja música. Mas também por poder atender à algo que eu venho sendo muito cobrado há anos já, em relação à esse negócio de aula e tal. Quanto à workshops, eu não só faço, amo! É só chamar que vou.

WG – O que você está projetando para os próximos anos? Já tem composições para uma próxima obra autoral?
EE – Tenho pensado em muitas coisas. Uma turnê do projeto do meu disco com esses músicos, quando acabar a pandemia. Até mesmo para constar, porque lancei o disco em meio a pandemia, mas não pude fazer os shows.
Levar para frente um projeto que eu tenho que é um tributo à Chick Corea Elektric Band. Levar para frente também uma banda de rock fusion “estilo AOR”, com músicas autorais que eu tenho, com letras bacanas e melodias bonitas, “a lá Toto”. Claro, o Curso Online e, o que vier ao coração no momento… Mas lá na frente a gente vê isso, rsrs.

 

 

Considerações finais:
Quero te agradecer de coração pelo convite a fazer essa entrevista, caro querido Wilson. São caras como você e alguns poucos mais que ainda mantém acesa a chama da música que vem da alma, do espírito, a cima dos interesses escusos dos “senhores do mercado”. Muito obrigado por isso. Que Deus te abençoe! ue Deus abençoe a todos os músicos desse mundo! Erik Escobar.

 

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