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Favela Jazz Festival: 03/04 a 25/04

Guilherme Augusto, jornal ‘Estado de Minas’, 31/03/2021

Da kombi para a internet: projeto coloca o jazz em circulação na periferia: a Iniciativa de produtores paulistanos tem o objetivo de levar o ritmo para a ‘quebrada’. Quarta edição do festival Favela Jazz começa neste sábado. Divulgar o ritmo do jazz nas periferias paulistas era o objetivo original do Favela Jazz Festival, projeto derivado da iniciativa Jazz na Kombi. Com o impedimento à realização de eventos presenciais em virtude da pandemia do novo coronavírus, o festival migrou para o ambiente virtual e agora tem o potencial de atingir muito mais “quebradas” brasileiras, a partir do próximo sábado (3/4).

As transmissões de shows e palestras serão realizadas até 25 de abril, via YouTube. Os quatro shows que compõem a programação foram gravados em uma pedreira desativada usada hoje como local recreativo por crianças do bairro Jardim Boa Vista, na Zona Oeste da capital paulista. A escolha do local é simbólica. Foi nesse mesmo bairro onde o festival nasceu, como um dos palcos do Vielada Cultural.

O Vielada é um evento que aborda várias linguagens culturais, entre elas o jazz, que tem um palco só para esse gênero. Desde 2015, esse palco ganhou um evento exclusivo, que circula por outros lugares de São Paulo. Apesar de ter nascido no gueto, o jazz sofreu uma elitização muito forte, que passou a ser tomada como uma de suas principais características. Mas isso não é verdade. O jazz é universal”, conta Caru Laet, idealizadora do Jazz na Kombi, ao lado de Giovani Baffô e Thiago Calle.

Criado há seis anos, o festival não tem a regularidade de uma edição a cada ano. Neste 2021, o evento faz sua quarta edição. Para montar o Favela Jazz Festival em formato virtual, a organização pensou estratégias para engajar o público, que agora está em qualquer lugar com acesso à internet. O evento se estende ao longo de cinco dias, mas, com exceção deste sábado (3/4) e domingo (4/4), essas datas não são consecutivas. Os outros três dias de evento são: 11, 18 e 25 de abril.

”Ninguém aguenta ficar o dia inteiro na frente do computador. Então, pensamos em diluir a programação em dias diferentes e afastados. Para não ficar muito pesado e concentrado”, explica Caru. Um dos desafios enfrentados foi na gravação do show que o maestro Letieres Leite realizaria. Para gravá-lo, a produção se deslocou até Salvador, onde ele vive. No entanto, quando chegaram, encontraram a capital baiana em lockdown. Resultado: não conseguiram voltar de lá com o material gravado.

 

 

SÁBADO (3/4)
16h00 – Exibição do documentário ”Jazz na Kombi Zoociedade”, de Peu Pereira
17h00 – Show do grupo Bocato Sexteto

DOMINGO (4/4)
16h00 – Palestra: A história social do jazz (parte 1), com Edson Ikê
17h00 – Show do grupo Conde Favela Sexteto, com participação de Sintia Piccin

DOMINGO (11/4)
16h00 – Palestra: A história social do jazz (parte 2), com Edson Ikê
17h00 – Show do grupo Átrio Jazz, com Joy Sales

DOMINGO (18/4)
16h00 – Palestra: O jazz como trilha sonora, com Rob Ashtoffen
17h00 – Show do grupo LOQÜAZZ

DOMINGO (25/4)
17h00 – Palestra: O universo percussivo baiano, com Letieres Leite
18h00 – Exibição do clipe”Flos & Dona Val”, de Peu Ferreira

FAVELA JAZZ FESTIVAL
Deste sábado (3/4) a 25 de abril. Eventos serão transmitidos no canal do YouTube do Jazz na Kombi . Gratuito. Mais informações no site do evento.

 

 

A gente conseguiu articular com ele uma participação nas atividades formativas. Vai ser uma aula muito rica para quem quer entender mais sobre o jazz brasileiro”, diz a idealizadora do evento.
Intitulada O universo percussivo baiano, a aula será realizada no último dia do evento, 25 de abril, às 16h00. O maestro pretende apresentar um método que busca ensinar a música popular brasileira a partir da consciência de um conceito estrutural rítmico ligado às matrizes negras.
O festival será aberto com a exibição do o documentário de curta-metragem ”Jazz na Kombi Zoociedade”, dirigido por Peu Pereira, às 16h30 deste sábado (3/4). Em seguida, às 17h, entra no ar o show do Bocato Sexteto.

A programação musical terá ainda shows dos grupos Conde Favela Sexteto, Átrio Jazz com Joy Sales e LOQÜAZZ.
Além da aula com Letieres Leite, o Favela Jazz Festival promove duas palestras. Uma delas, A história social do jazz, conduzida por Edson Ikê, será dividida em duas partes: no domingo (4/4) e em 11 de abril, sempre às 16h.
Já “O jazz como trilha sonora“, com Rob Ashtoffen, ocorre no dia 18, no mesmo horário. Nela, o músico irá destacar a ligação entre música e cinema.
Diferentemente da aula “O universo percussivo baiano”, gravada previamente, os outros dois acontecerão ao vivo, o que permitirá a interação com o público.

Em 25 de abril, às 17h, o filme ‘‘Flos & Donal Val”, de Peu Pereira, encerra o festival. A produção presta homenagem póstuma a duas personalidades importantes para a quarta edição do evento: o artista e produtor cultural baiano Flávio Oliveira e Dona Val, uma das fundadoras da comunidade onde o Favela Jazz ocorre.
É um vídeo que reúne os clipes das músicasPatinete rami rami‘, do Letieres Leite Quinteto, e ‘Sabiá‘, de Luiz Gonzaga, interpretada por Lilian Estrela e Banda. É a forma singela que a gente encontrou de homenagear duas pessoas muito importantes para a nossa história”, afirma Caru Laet.

 

 

 

A intenção do Jazz na Kombi, projeto que originou o festival, era fazer “des-elitizar” o gênero e levá-lo para lugares onde seria raro ouvi-lo. ”Sempre priorizamos lugares da periferia, quebradas mesmo. E nossos eventos são sempre abertos, em praças e ruas. E gratuitos”, observa Caru.
Apesar de ter nascido no gueto, o jazz sofreu uma elitização muito forte, que passou a ser tomada como uma de suas principais características. Mas isso não é verdade. O jazz é universal”, diz ela.

Após sete anos na estrada, ela acredita que ainda há muito a ser feito na tentativa de levar o jazz a quem tem pouca familiaridade com ele. ”Em geral, os shows do gênero acontecem em casas de shows onde a entrada não é barata. Consumir dentro desses espaços também não é acessível”, aponta.
Segundo ela, ir até os bairros da periferia é a maneira mais adequada de acessar um público que, muitas vezes, não tem condições de se deslocar dentro dos centros urbanos.
Um festival como esse, além de ampliar o repertório cultural de quem mora lá, também incentiva a autoestima dessas pessoas. Nós sempre promovemos oficinas, então acaba que esse público se torna um produtor de cultura também. É um movimento de reconhecimento de um território muito importante dentro das cidades’‘, afirma.

 

FAVELA JAZZ FESTIVAL
Deste sábado (3/4) a 25 de abril. Eventos serão transmitidos no canal do YouTube do Jazz na Kombi . Gratuito. Mais informações no site do evento.