Argentina

O novo vôo de Noel Morroni => Essayer

Uma das linhas de ação do site é abrir espaços para os novos talentos que apresentem propostas ousadas e inovadoras. Comecei a conhecer a obra de Morroni há quatro anos atrás quando o Clube de Jazz divulgou seu primeiro trabalho solo Donde Vuelan? Agora, Noel nos apresenta com seu trio Morrotrönik seu segundo trabalho, Essayer. Nessa entrevista ele nos conta sobre seu projeto e sobre as composições criadas especialmente para esse trabalho.

 

Wilson Garzon – Como se deu a sua formação musical: nasceu numa família de músicos? Quando optou pelo piano? Que escolas/professores foram fundamentais?

Noel Morroni – Meus pais, ambos são artistas, mas não músicos; meu pai Marcelo, era artista plástico e minha mãe Susana é dançarina e coreógrafa contemporânea. Meu primeiro contato com a música ocorreu durante a minha infância em Lyon, na França. Depois, comecei meus estudos formais de piano aos 11 anos e aos 17 anos terminei junto com a escola secundária a carreira de piano com orientação acadêmica clássica. Estudei 12 anos com minha professora particular Celina Roshental de Suez e logo ingressei no Curso de Jazz do Conservatório Manuel de Falla, dirigida por Ernesto Jodos. Também fiz workshops com ótimos professores, como Barry Harris, Marilyn Crispell, Fred Hersh e Shai Maestro, muito diferentes esteticamente, mas foram muito importantes para mim.

WG – E quanto ao jazz, quando o definiu como o seu caminho? Que pianistas/instrumentistas lapidaram o seu estilo?

NM – Ainda não me defini como jazzista (rsrs); gosto de me nutrir e compartilhar de outras músicas também, desde a música e poesia de LA Spinetta e Charly Garcia, as improvisações de Gerardo Gandini no sexteto de Astor Piazzolla, até a escuridão de Massive Attack ou Bjork ou o humor de Erikah Badu. São influências cotidianas que, desde a infância, formam um universo paralelo ao jazz, mas ao mesmo tempo elas estão lá e acho que são ouvidas na minha música.

Vou falar sobre os pianistas atuais, porque cheguei ao jazz num disco de Jean Yves Thibaudet tocando música de Bill Evans e esse disco é como um eterno primeiro amor.  Às vezes, escuto pianistas, por causa de seu papel como acompanhantes e não como solistas. Pianistas como Aaron Parks, Gerald Clayton, Shai Maestro, Sullivan Fortner e Eden Ladin. Gosto de escutá-los hoje, mas não me sinto influenciado por eles. Meu estilo é um pouco mais introspectivo e nostálgico; pianistas como Joona Toivanen, Vijay Iver ou Tigran Hamasyan me representam mais de perto.

WG – ‘Donde Vuelan?’ de 2015, é o seu primeiro trabalho solo. Existia um conceito nesse seu cd? Que músicos participaram das gravações?

NM – Nos meus dois álbuns Donde Vuelan? (2015) e Essayer (2019) as músicas foram compostas especialmente para cada grupo, levando em consideração seus músicos. Tenho muita confiança em todos os grandes amigos e quando trabalhamos em equipe, eles são muito importantes. Sempre antes de gravar, tocamos muito música ao vivo.

No álbum Donde Vuelan? (Quinteto), quem toca são Pablo Mourelle na guitarra, Ingrid Feniger no saxofone alto, Nacho Szulga no contrabaixo e Martin Lopez Grande na bateria. No álbum Essayer (Trio), quem toca são Andres Chirulnicoff no contrabaixo e novamente Martin Lopez Grande na bateria.

WG – Agora, em 2019, você lança seu segundo trabalho solo, ‘Essayer’. Durante esses quatro anos, você estava envolvido em outros projetos?

NM – Foi um pouco assim. Em 2016, fiz uma extensa turnê pela Europa em Duo com o compositor Alan Haksten e isso foi muito trabalho para nós. Durante esse ano e o próximo (2017) toquei muito com o meu novo grupo de músicos adicionando dois novos integrantes ao meu quinteto: Francisco Salgado no trombone e Flor Otero na voz. Tínhamos uma gravação em mente para esse trabalho, mas infelizmente devido à doença de Francisco não conseguimos. Isso me deu o impulso de entender que, quando se percebe que há material novo e fresco, você deve registrá-lo sem hesitar.

WG – Você fundou o seu grupo ‘Morrotrönik ‘ para esse projeto? Você já tinha tocava com os músicos?  Porque a opção pelo trio?

NM – A história é que começamos a tocar em trio e gostamos dessa química. Senti que poderíamos encontrar uma voz própria e logo, por curiosidade da vida, eles dois (Andrés e Martin) tocaram juntos por um ano, enquanto Essayer estava sendo gestado. Mais que uma convivência musical (rsrs).

Para mim, foi um grande desafio, depois de muitos anos tocando minha música em grandes grupos, voltei à formação tradicional e íntima do trio de piano, onde meu instrumento tem outro papel. E, claro, tem um toque da minha mãe, que sempre me dizia que ‘com o quinteto não dava para ouvir o piano’, rsrs.

 

WG – Existia um projeto conceitual para ‘Essayer’? Como foi o processo de gravação?

NM – Tocamos muito a música ao vivo e ensaiamos muito. Durante os dois anos de trabalho, fomos interrompidos duas vezes por contratos de Andres (contrabaixo) no exterior, quando ele finalmente voltou, começamos a trabalhar. A gravação foi curta e fluida, ficamos muito felizes com o resultado .

WG – O repertório é formado por nove composições autorais. Conte-nos um pouco sobre o processo de criação de cada uma delas.

NM – La Foto que vendra
É uma breve improvisação que nos introduz ao mood do disco.
La Peregrina y la Tormenta
É um fragmento de uma composição, dedicada a minha companheira Julia, que gosta de observar os pássaros.
Pajaros de Papel
É uma das primeiras composições; faz referência a que não importa de que material somos feitos, sempre podemos levantar vôo.
Una Voz Azul
É uma canção que tem letra, apesar de ter sido gravada só instrumental, nos fala sobre como escutamos internamente.
Por Los Aires
É uma expressão usada quando começamos um novo ciclo ou conhecemos um novo amor.
Gufnu
É uma composição de um amigo com quem toquei em Berlin, Marcel Kromker. Procurem a sua música.
Essayer
Traduzido seria algo como ‘A Intenção’; um jogo e desafio, que a canção me propõe. Fazer melodias que pareçam cantáveis ao escutá-las, mas na verdade têm una complexidade rítmica que nos diverte.
Moliere
Uma canção inspirada em belos momentos vividos na Rua Moliere.
Lapso
Fragmentos com diferentes humores musicais.

WG – Como você está montando a divulgação do cd?

NM – Já temos os seguintes shows agendados:
09 de Outubro no Café Vinilo;
21 de Novembro no La TribuFM, durante o ciclo de Poesia y Musica
06 de Dezembro no Virasoro Club de jazz

WG – E em relação ao Brasil, você pretende apresentar a sua arte por aqui?

NM – Em 2020, recibi um convite para participar do ‘Festival de Jazz de Serra Grande‘ em Salvador – Bahia.