Argentina

(sic)Trio lança ‘Jerga’: um trabalho de vanguarda

Adolfo Trepiana e Noel Morroni se conheceram no início de suas respectivas carreiras, no então
emergente ambiente do novo tango em Buenos Aires, e se reencontraram mais de uma década depois.
Cada um com sua trajetória agora como compositores, unem tango, jazz, rock e experimentação para
trazer, junto com o terceiro integrante Nacho Coppolecchia, um disco interessante para o catálogo de
Ears and Eyes.

Jerga” é o álbum de estreia do (sic)Trio. Como o próprio nome indica, não há erro nesta equipa tripartida. ‘Jerga’ apresenta uma gíria a meio caminho entre vários cruzamentos possíveis. Um manifesto contemporâneo que com seu código se permite abrir fora das fronteiras físicas e unir novas expressões.

 

 

Pensamos em sombras que voltam, que se juntam num hip hop melancólico com muito ar e ondas de
ritmo. Uma música que nos permite mergulhar nas profundezas de uma superfície aquosa e intemporal.
Mergulhamos no olho brilhante deste ‘Maelström‘ do Rio da Prata. Ali vemos um turbilhão de palhetas
livres que se despedem do painel de botões iluminado do Bandoneon. O Piano ataca cada setor da
pauta e se deixa libertar das mãos das intuições do baterista.

É interessante notar que várias dessas canções foram compostas em cima de navios, lutando contra os
rigores dos mares e percorrendo grandes distâncias ao redor do mundo. Tal como Ulisses na sua
odisseia procura regressar, aqui sentimos aquela suspensão no som ar-água, a meio caminho entre
regressar ou ficar. Não sabemos o que vem a seguir. Estamos expectantes perante a incerteza métrica
e tímbrica que o (sic)Trio navega.

Talvez ‘Noosa‘ também faça alusão a essa viagem em código, uma referência também àquela região australiana à beira-mar. Uma viagem que pode se tornar agressiva e até estranha, como naquele sentido unheimlich que tentou o Freud dos subúrbios. Um Freud que, em vez de camisa e paletó, veste uma camiseta Nik Bärtsch.

 

As águas da Argentina à Europa se unem no mesmo eco distante e escuro, embora não o conheçamos
plenamente. Há um pano de fundo puro, um palco que resiste às falsas luzes e que se deixa encontrar um presente de diálogo e questionamento. Este é o núcleo acústico que marca o x no mapa do Trio.

Jerga‘ é um disco que fala uns com os outros numa espiral egocêntrica que nos chama. Uma atração
difícil de resistir, difícil de não pular na água e jogar. A música como deus ex machina nos propõe com
fervor a entrada no triângulo harmônico e melódico desses três argentinos. Podemos acolher ou
descartar o que vemos: uma nostalgia pura pela originalidade.

Repertório

01 – ‘Habrá’ (4:32):
é a faixa que abre o álbum, e representa perfeitamente a busca do Trio, uma forma de contar sua própria história original com uma linguagem sui generis.
02 – ‘Farewell’ (3:08):
Partindo de uma simplicidade melódica, é uma música sem letra, como aqueles filmes mudos a que nossos avós se acostumaram.
03 – ‘Maelström’ (3:22):
é uma faixa direta, um empurrão de energia do começo ao fim, a faixa mais violenta do álbum. Uma clara referência às aventuras escandinavas dos compositores do Trio.
04 – ‘A Lo Que Ves’ (2:28):
É uma exploração minimalista onde a calma é interrompida por pensamentos inquietos.
05 – ‘Retorno’ (2:43):
É a sensação de estar suspenso no ar sabendo que o que se segue é incerto: alea jacta est.
06 – ‘Jerga’ (3:41):
a faixa que dá nome ao álbum, explora uma sonoridade densa e obsessiva, com estruturas constantes, que aparecem ao longo de toda a música.
07 – ‘Noosa’ (4:59):
a faixa que fecha o álbum tem introdução de piano e samples. É inspirado em uma experiência psicodélica que aconteceu no meio de uma viagem interrompida pela pandemia.
(Material de Divulgação)

 


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