Entrevistas

Solo com André Siqueira

O violonista André Siqueira acaba de lançar seu quarto disco, o primeiro “Solo”. Aqui, ele nos conta um pouco da sua trajetória, a partir de seu encontro com o violão, sua formação e de seus trabalhos anteriores: “Lithos” (2001), “Afternoon Improvisations”, com o violonista Camilo Carrara (2014) e “Catamarã” (2016). E  relação a “Solo” ele entre em detalhe sobre as escolhas do repertório, gravação e o lançamento. E para finalizar, ele dá uma pista sobre seus futuros projetos.

Wilson Garzon – Como se deu seu encontro com o violão? Amor à primeira vista? Foi difícil deixar a carreira de cientista social para seguir a de músico?
André Siqueira – Meu encontro com o violão se deu por intermédio de meu pai, que era músico diletante e também tocava guitarra e bandolim. Foi aos 7 anos de idade e não foi amor a primeira vista não, aos 7 anos eu queria jogar bola… O violão foi me escolhendo e ficando na minha vida, aos 11 eu não queria saber de mais nada que não fosse música. Sempre fui músico, somente meu doutorado foi em ciências sociais e assim mesmo, foi sobre a trilha sonora dos filmes do Glauber Rocha da década de 1960 (Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro)

WG – Em sua formação, a sua opção pela música popular brasileira sempre esteve presente?
AS – Eu nunca tive aulas formais de violão, quando entrei na faculdade onde cursei licenciatura em música, eu estudei piano. Estava mais interessado em composição naquela época do que no instrumento violão. Eu venho da rua, de um aprendizado informal; nós aprendíamos vendo os outros tocarem em bares etc… Quando entrei na faculdade, foi um mundo totalmente novo pelo qual me apaixonei: o texto musical em suas filigranas, as análises de música do século XX, as aulas de contraponto, tudo maravilhoso. Mas minha base sempre foi a música do meu país. Nossa riqueza e diversidade cultural sempre me encantou. Então, comecei a misturar as coisas, as técnicas de composição, do instrumento e as músicas e manifestações de um Brasil profundo ao qual estou muito ligado.


WG –
Antes do cd ‘Solo‘, você já havia lançado “Lithos” (2001), “Afternoon Improvisations”, com o violonista Camilo Carrara (2014) e “Catamarã” (2016). Em termos conceituais, como você definiria esses seus trabalhos?
AS – Lithos” foi um registro de uma produção que eu considero importante porque traz uma inocência, uma pureza. O disco contém músicas que fiz com 15, 16 anos de idade e elas não tinham a pretensão de serem composições no sentido sério da palavra. É um disco no qual toco vários instrumentos e estava numa fase de namoro com a improvisação livre e com o jogo da performance coletiva. É dedicado ao meu primeiro filho, Pedro. Tenho muito carinho por esse trabalho.
Afternoon Improvisation” foi gravado por Ricardo Marui em duas horas no estúdio da Faculdade Cantareira em São Paulo. Eu e Camilo temos uma afinidade musical impressionante! Não combinamos absolutamente nada. Entramos no estúdio e gravamos 2 horas de música, improvisando. Esse é o disco.
Já “Catamarã” é um disco de composições no sentido mais estrito do termo. Considero um trabalho mais maduro, no qual misturo técnicas de composição da música da primeira metade do século XX (como os procedimentos harmônicos do compositor Béla Bartók) com música brasileira de matriz rural, como o Cateretê, Jongo, Maracatu, Moçambique etc… Esse é um disco que foi gerado a partir de um procedimento misto: as partes do violão foram criadas a partir de improvisações e uma vez definidas, escritas na partitura. Após esse processo, eu escrevi as outras partes em um movimento criativo muito próximo daquele utilizado pelos compositores “strictu sensu”. O que me deu muita alegria nesse disco foi o prefácio do Egberto Gismonti que analisou elogiosamente todas as músicas. Um presente!

WG – Esse atual trabalho ‘Solo‘ que está lançando, já era um projeto antigo?
AS – Solo” é um disco que registra meu lado mais violonista. Eu faço arranjos para violão desde adolescente. O arranjo de “Oceano” do Djavan, por exemplo, é dessa época, quando tinha 15 ou 16 anos. O arranjo permite um diálogo criativo com a história da música brasileira, à qual sou muito grato. Nesse disco eu toco desde um ponto de Oxum até Elpídio dos Santos, passando por Jacob do Bandolim, Tom Jobim, Guinga, Edu Lobo, entre outros. Foi um disco gravado em dois dias e que não teve edições ou sobreposições de instrumentos, é um autêntico disco de violão solo. Fazia anos que eu queria gravar um disco solo: enfim chegou o momento!


WG –
O repertório está baseado em músicas autorais e clássicos de nossa mpb. Em relação às autorais, conte-nos um pouco sobre “Suite Estrela Guia”.
AS – Suíte da Estrela Guia” é uma homenagem à religiosidade humana no sentido mais amplo, na beleza de entregar-se a um força maior. Ela não foi composta de modo tradicional: foram 4 improvisos, 2 com o violão barítono e 2 com o violão normal. Posso dizer que foi o momento e a Dona Música que me deram essa suite de presente!

WG – Em relação aos clássicos, como se deu as escolhas? Elas já estavam presentes nas suas apresentações?
AS – Alguns já estavam presentes e eram tocados em casa, em apresentações nas quais eu inseria um ou outro arranjo entre minhas composições. E a escolha foi pelo gosto mesmo! Eu adoro essas músicas e poder tocar esse repertório me dá muita alegria.

WG – Quanto ao processo de gravação e mixagem, foi tudo tranquilo?
AS – Foi o mais tranquilo que já tive em minha vida! Eu mesmo gravei, junto com Gustavo Guimarães, que é um violeiro e grande amigo de Belo Horizonte; ele tem um estúdio no fundo da casa dele. Foi uma maravilha! A mixagem e masterização eu mesmo fiz, em casa também. Como trabalho em estúdio há bastante tempo, aprendi a realizar esses procedimentos de modo relativamente tranquilo.


WG –
E em relação ao lançamento, o que já está planejado?
AS – Lanço no dia 06/09, em Belo Horizonte, na Mostra Internacional de Violão, que trará grandes violonistas e acontecerá de 04 a 06 de Setembro no Conservatório da UFMG. No dia 27/09 eu faço o lançamento no auditório do Itaú Cultural em São Paulo, com participações especiais; em Outubro farei o lançamento em algumas cidades do interior paulista e em Novembro está programado um show em Brasília. Minha vontade é tocar esse repertório o máximo possível. Como sou somente eu e 2 violões no palco, isso facilita bastante as coisas. Espero receber muitos convites para levar essa música que tem o objetivo de ser acolhedora para as pessoas, pois trabalha com a memória afetiva de muita gente.

WG – Que projetos você pensa em desenvolver para os próximos anos?
AS – Bem, são muitos! Desses dois dias de gravações que resultaram no “Solo”, sobraram mais 8 ou 9 faixas que eu pretendo lançar em um novo trabalho com participações de outros músicos. Tenho várias composições inéditas que quero gravar com formatos maiores, trio ou quarteto. Tenho a intenção de gravar outro disco com formato de duo com obras do Garoto. Além da parte musical preciso publicar no fotmato de livro a tese de doutorado sobre a música nos filmes do Glauber. A carreira acadêmica também tem seus projetos como o “Cordas Brasileiras”, um projeto de extensão da Universidade Estadual de Londrina, o qual estou na coordenação. Esse projeto envolve as transcrições de arranjos para violão solo, produção de recitais e a criação de um site disponibilizando esses arranjos gratuitamente aos interessados.
Enfim, agradeço de coração a oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho e espero que gostem desse novo disco “Solo” Grande abraço!


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