Entrevistas

Túlio Mourão apresenta seu mais novo ‘Barraco’

Tenho enorme prazer de apresentar o mais novo tesouro da safra musical do pianista e compositor Túlio Mourão. Como a nossa amizade é de longa data,  fiquei numa posição prá lá de confortável para elaborar as perguntas  e por outro lado recebi de volta respostas bem afinadas com o propósito dessa entrevista. Esse cd faz parte do projeto ‘Túlio Mourão: 50 anos de Música’, que também compreende o seu livro autoral ‘Alma de Músico’ (Foto da capa: Maria Clara Mourão)

 

Wilson Garzon – Cinco anos depois de lançar ‘Come Together‘, você retorna ao formato de trio com ‘Barraco Barroco‘. Esse projeto já nasceu com conceito próprio?
Túlio Mourão – O formato trio eu considero como uma aquisição recente que dá mais protagonismo, e também mais responsabilidade ao piano, ao mesmo tempo se mostra mais apropriado para minha busca atual por mais transparência, valorizando mais as performances dos músicos e fugindo de arranjos complexos e engessantes.

WG – As gravações e a mixagem ocorreram entre 11 e 12 de 2019. O processo rolou tranquilo, tudo no primeiro take?
TM – As gravações foram prazerosas. Eu contava mesmo com valiosas contribuições pessoais dos músicos, e tive excelente resposta provocando um clima de música ao vivo quase sem dobras e edições.

WG – O nome escolhido ‘Barraco Barroco’, uma vez que não é nome de música, é um jogo de palavras ou um espaço musical que une Ouro Preto com a Rocinha, ou…?
TM – Aqui eu uso barraco com a força da gíria para conflito. Uma metáfora para o tempo de antagonismo e fanatismo em que nos submergimos com muita briga e pouco entendimento, pouca convergência e nenhuma construção.
Balas perdidas da Rocinha atingindo Ouro Preto também me atende como metáfora!

 


WG –
As escolhas de Bruno Vellozo (baixo) e Felipe Continentino (bateria) para esse projeto, já era um sonho pensado antes? E quanto aos seus amigos ilustres, Toninho, Juarez e Chico: enfim juntos pela primeira vez?

TM – Bruno Veloso e Felipe Continentino significam, antes de mais nada a minha saudação à nova geração de instrumentistas talentosos que reforçam minha convicção de que a música instrumental seguirá em boas mãos, e se configura entre os mais brilhantes aspectos da cultura mineira contemporânea. Os queridos Toninho Horta e Juarez Moreira coloco na categoria de urgências musicais para demolir a inexplicável ausência deles na minha discografia. Era urgente traze-los para o lado de amigos como Chico Amaral, Eneias Xavier, Lincoln Cheib, Renato Saldanha, Vagner Faria e Edvaldo Ilzo. Também agradeço a Joao Paulo e Robson Fonseca.

WG – A Espanha está presente em ‘Barraco Barroco‘ como inspiração para três composições:

. Saga Ibérica é um misto das suas influências de Albeniz e Rodrigo com Chick Corea?
.Serenata Sevilhana é uma homenagem também? Já esteve por lá?

TM – Albeniz, Rodrigo, Chick Corea e também meu pai que trazia musica espanhola para nossa vitrola da infância. Sevilha, Cordoba, Granada, o Alhambra, em especial a região da Andaluzia me impactaram e dilataram meu interesse por toda a arte Ibérica, que defendo, pode nos conduzir a um entendimento mais lúcido e mais qualificado sobre a cultura islâmica.
.T0cata Poente das Araras é uma paisagem ou uma pousada em Araras?
TM – Poente das Araras é uma algazarra de araras no meu sítio. O caseiro reclama prejuízos mas considero que elas pagam bem pelo que consomem com um belo, ruidoso e divertido espetáculo!

WG – Baile Acabado‘ é tecnicamente, um groove para a mão esquerda? O cenário poderia ser a volta dos músicos caminhando pela madrugada, após o baile?
TM – Sim, Baile Acabado é um groove bom de tocar. Gosto do ditado ‘baile acabado músicos a pé‘ e teria batizado assim o CD Teia de Renda …na ocasião me convenceram de que o título seria por demais derrotista… pouco depois Chico Buarque colocou esse ditado numa canção e comprovou a força e a empatia da expressão, e agora eu volto a insistir na toada…
WG – Buscando o clima das músicas instrumentais dos anos 60, você compôs ‘A Última Montanha’ e ‘Jardim do Afeto’. Nelas, o lirismo está presente com muita força. Esses cenários, a montanha e o jardim, realmente existiram em algum momento da tua vida?
TM – A motivação vem do fato da gente ter música instrumental extremamente popular nos anos 60, tocando nas rádios, nos bailes, nas casas. Muitos desses temas vinham do cinema – temas simples porem poderosos – essa combinação que antes me encantava hoje, mais que isso, me desafia! Os jardins e as montanhas na verdade me cercavam por toda a infância e a música ainda é para mim o caminho mais simples e eficaz de eternizá-los.

WG –Céu de Cacos de Vidro‘, é uma música em que Toninho Horta é seu convidado. Esse título é uma homenagem ao Beatles via ‘Lucy in the Sky with Diamonds’?
TM – Sim, você acertou na mosca! É claro que tenho que adaptar o lirismo psicodélico do céu de diamantes para nossa realidade onde muitas coisas brilham sem ter qualquer valor! Como cacos de vidro polidos pela nossa cultura de consumismo e superficialidade!
WG – At last, ‘Sonata Caipira‘ é um encontro da música clássica com a caipira?
TM – Sonata Caipira é um exercício de improviso contínuo, sem cortes e edições onde o piano confessa sua musculatura erudita ao mesmo tempo namora com motivos que exalam dos sertões de Caicó ou a poesia dos cerrados mineiros.
WG – Como você é um cidadão que tem por hábito transformar seus sonhos em projetos, o que está sendo preparando para nós na era pós-pandemia?
TM – Minhas urgências artísticas se configuram em um book de partituras e um novo livro desenvolvendo o conteúdo de uma palestra minha para o TED que a pandemia adiou…

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