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Edu Leal: Livre para uma Vida Nova!

 

 

Antes de mais nada, o violonista e guitarrista paulista Edu Leal é um músico que prima pelo talento e fibra. Desde quando passou pela fase roqueira até quando entrou no universo do jazz e da música brasileira, todas as suas referências foram de qualidade. Em 2012 lançou “Vida Nova”, cd muito bem recebido por músicos e críticos. Agora, acaba de lançar seu mais novo trabalho, “Livre”. Que é o tema central de nossa entrevista.

 

Wilson Garzon – Como se deu sua opção pela guitarra? Tem a ver com o rock?
Edu Leal – Iniciei com o violão aos 11 anos, mas quando entrei na adolescência, sem dúvida nenhuma, o rock, a escola progressiva e o metal dos anos 80 foram importantes para minha formação . Até hoje tenho nostalgia dessa época, dos solos maravilhosos do Eddie Van Halen , Steve Vai, Murray e Smith. Depois veio uma admiração maior por guitarristas mais jazzísticos como Jeff Beck, Frank Zappa e sobretudo Allan Holdsworth! Aqui no Brasil por Toninho Horta. Lembrando que vim de uma casa cujo pai era pianista e meus ouvidos foram acostumados a Villa-Lobos, Maurice Ravel e Bela Bartók.

WG – Quando se mudou para a capital, ampliaram as suas influências e entre elas está o jazz. Como se deu esse encontro? Que instrumentistas/professores foram decisivos no seu desenvolvimento?
EL – Em São Paulo, tive a sorte de morar numa República Universitária (o qual até homenageio no disco) e o bom gosto reinava lá, com muito Jazz a e Música Brasileira( Coltrane, Zappa, Crimson, Hermeto, Egberto, Tom) e foi um divisor de águas. Evidentemente os sons apresentados pelos professores foram decisivos; logo entrei em contato com Miles, Barney Kessel, Mike Stern, enfim, o repertório jazzístico da guitarra. Claro, a descoberta do som do Guinga foi fundamental! .

Curiosamente, pela própria situação de estudo, comecei a me envolver com os mestres do jazz/Música Brasileira que não eram guitarristas, como o Weather Report, Mingus, Victor Assis Brasil, enfim , mais ou menos aí que foi criada a semente da composição. Em São Paulo estudei guitarra / violão com Tomati, Kiko Moura, Dema K e, mais prolongadamente, com Conrado Paulino. Após a verve composicional aparecer, tive aulas de Teoria Musical com o maestro Cláudio Leal, Sérgio Cominnato, Carlos Iafelice e Martin Herraiz.

WG – Em 2012, você lança “Vida Nova”, um disco muito bem elaborado. O conceito desse trabalho seria uma síntese dessa sua nova fase, como compositor e instrumentista?
EL – O disco Vida Nova realmente tem relação com a minha escolha de dedicar-se exclusivamente à composição; ainda que seja um instrumentista . Digo isso pois me afastei de outros projetos musicais e de outras gigs para fazer o disco.

WG – Como diretor musical, Arismar do Espírito Santo foi responsável pelos arranjos e as formações dos grupos?
EL – No disco Vida Nova, Arismar foi responsável por sugerir formações instrumentais, além da sua participação em muitas faixas. Ainda que os arranjos propriamente: a parte escrita e cifrada, fui eu que realizei com ideias próprias. Aliás, a presença dele foi muito importante para me estimular para essa tarefa, nada fácil, que nem sempre conjuga bem com o status de instrumentista “puro” kkkk. Arismar é um dos músicos mais importantes do Brasil!

WG – Em 2017, cinco anos depois, você lança “Livre”. O que mudou em relação a “Vida Nova”?
EL – Primeiramente, eu fiz toda a produção musical, escrevi todas as notas de todos os instrumentos com exceção da percussão, ainda que tenha feito as indicações ao baterista . A mudança foi radical. No disco anterior, apesar da produção, não houve uma banda propriamente dita, sendo mais “free” e com uma sonoridade não exatamente “atempo”, rigorosa, ensaiada. Isso tem aspectos bons e ruins , e dessa vez , em “Livre”, pensei em fazer o contrário: tudo arranjado , escrito e muito ensaio com uma banda fixa: “A Conjuntura”, foi quem comprou muito bem a ideia e participou desse sonho . Claro: você precisa de uma banda com músicos com uma leitura musical no melhor nível. Tenho muito a agradecer a esses excelentes músicos daqui de SP!

WG – Nesse trabalho, o repertório tem treze composições, sendo que seis são instrumentistas. Seria uma maior liberdade em se apresentar como instrumentista?
EL – Pois é Wilson, essa pergunta é fundamental . Depois que comecei a estudar um pouco de composição e orquestração, quis colocar em prática essa veia, sobretudo como arranjador. A música instrumental sempre exerceu um grande fascínio em mim, tanto que alguns colegas , incluso um crítico americano, dizem que na verdade faço “canções instrumentais”, ou seja , a música pode ter letra, mas a feição geral é de uma música instrumental, fugindo um pouco das formas tradicionais da canção.

WG – Como surgiu ‘A Conjuntura’? Já era uma banda que estava contigo ou ela foi reunida para a gravação?
EL – Esta banda foi formada há tempos, pois foram estes músicos que fizeram o show de lançamento do primeiro disco. Tenho amigos na banda desde a adolescência e na realidade já tivemos vários projetos juntos! O termo ” A Conjuntura ” realmente surgiu nos ensaios do disco “Livre” , e aí ficou!

WG – Em “Vida Nova” os letristas foram vários; já em “Livre” você também foi responsável pelas letras. Tudo dentro desse novo espaço de liberdade criativa?
Acho que sim , ainda que tenha feito apenas uma letra para o disco “Livre”. Me concentrei mais na parte musical desta vez! Vejo a Letra com um potencial que prefiro deixar na mão dos especialistas, ao menos, por ora.

WG – Como está sendo a divulgação de “Livre”? Há shows agendados?
EL – A divulgação tem sido mais por via digital. O Disco está disponível em todas as plataformas digitais , além do Streaming : Apple Music / Spotify.
Tenho batalhado os espaços dedicados à música de qualidade. Sendo sincero,não está fácil , mas estamos adiantados em contatos com duas unidades do SESC e no segundo semestre teremos shows, ainda não definidos, no circuito de São Paulo. Os críticos estão recebendo bem o disco, como é o caso de Zuza Homem de Mello e Tárik de Souza.

WG – O que você está projetando para o futuro?
EL – A divulgação do primeiro disco não foi a ideal, mas desta vez estamos mais “profissionais”, com assessoria de imprensa associada. A ideia é que este disco chegue- principalmente – ao maior número de pessoas no Brasil , mas, também , no exterior. O cd “Livre” teve participações de 21 músicos e cantores, e foi uma produção longa e dedicada, com 4 anos de escrita e preparo, sendo possível apenas com Lei de Incentivo envolvida : PROAC/SP .
Estou preparando o DVD do show de lançamento do cd “Livre”, onde tivemos 10 músicos no palco: além da Conjuntura, convidados especiais como Filó Machado e músicos da Orquestra Jazz Sinfônica! Foi realmente uma beleza!
Logo pretendemos que ele tenha o maior espaço possível pois definitivamente merece! Ademais, tenho dezenas de temas engavetados e esperando o melhor momento para desengavetá-los! Tenho um sonho de compor uma peça sinfônica no futuro! Queria agradecer muito a você Wilson pela oportunidade.