Argentina

Os novos caminhos de Dan Pocetti

A seção Argentina do Clube de Jazz sempre apresentou músicos conhecidos da cena portenha do jazz como Oscar Giunta, Mariano Loiácono, Alan Plachta, Pipi Piazzolla e Ernesto Jodos, entre outros e novos talentos como Juan Bayón, Noel Morroni e Sebastián de Urquiza. Agora, é a vez do jovem guitarrista Dan Pocetti que acaba de lançar pelo selo Ears and Eyes, o cd “Retoñar”. 

Wilson Garzon – Você nasceu dentro de uma família musical ou aprendeu a tocar guitarra em escolas de música?

Dan Pocetti – Na minha casa, minha mãe sempre ouvia muita música, de preferência, qualquer coisa do rock nacional. Ela cantou em coro e acho que, inconscientemente, incorporou muitas melodias. Meu avô havia lhe dado um violão e ele ficava minha casa.

Aos 12 anos, peguei esse violão e comecei a aprender músicas de rock com meus amigos. Logo toquei em bandas punk, fizemos shows e gravamos discos. Quando terminei a escola, comecei a ter aulas particulares de jazz e improvisação e depois fui para o conservatório.

WG – Você começou a tocar rock e depois se encantou como Jazz. Como foi essa passagem? Que influências musicais foram decisivas?

DP – Eu acho que essa passagem foi a improvisação. Eu sempre passava muito tempo improvisando na sala de estar, com amigos ou com meu grupo de rock. Descobri que adorava improvisar, então procurei mais ferramentas para poder ter mais liberdade musical, melhorar minha expressão e espontaneidade. Eu encontrei essa resposta no jazz.

Primeiro usei esses elementos para compor músicas cantadas e depois, com o tempo, mergulhei no estilo. Algumas influências que me marcaram: Thelonius Monk, Jim Hall, Mike Stern e Sonny Rollins. Em Buenos Aires, Juan Pablo Arredondo, Patricio Carpossi e Juan Cruz de Urquiza.

 

 

WG – Em 2013, você lança seu primeiro CD: ‘Filadelfia‘. Ele foi um cd mais autoral ou de standards?

DP – Lembro que no ano anterior (2012) passei a morar sozinho pela primeira vez e ficava muitas horas escrevendo músicas. Virei noites compondo melodias, pensando em estética e nas histórias que eu queria contar. Também estava abrindo uma jam toda semana com um quarteto e eu escolhi essa formação para gravar. O repertório de “Filadelfia” é composto por oito músicas autorais.

WG – Depois de uma temporada em NY, você forma com Morroni, Chirulnicoff e de Barrio o quarteto Lobo, que em 2016 lança ‘Unsolved’. Esse trabalho foi um passo adiante em termos conceituais? A repercussão na mídia e na crítica foram boas?

DP – Sim, claro; foi o começo na procura por um som mais moderno. Com mais groove, não tanto swing e algum tempero de free jazz. Viajar para Nova York foi uma inspiração gigantesca e abriu muito meu espectro musical.

No Lobo, além de sermos grandes amigos, estávamos em uma exploração musical semelhante. Nós executamos composições de todos nós, o que nos levou a encontrar uma identidade de banda deixando de lado a responsabilidade de um solista. Coisas legais aconteceram, fizemos shows com muito público e gravamos nosso álbum.

WG – Quando você começou a elaborar o projeto “Retoñar”?

DP – Há cerca de dois anos estou compondo novas músicas com a intenção de gravá-las com um quinteto. Estávamos experimentando diferentes possibilidades musicais com o grupo, algumas músicas foram acrescentadas e outras abandonadas. No ano passado, quando vi a lista de composições, selecionei aquelas com as quais mais me identificava, aquelas em que podia reconhecer como minha música; daí estava pronto para gravar o álbum.

WG – O cd foi pensado dentro de uma base mística e filosófica? AS músicas já estavam compostas ou foram desenvolvidas para o projeto?

DP – O trabalho tem uma filosofia própria. Não foi totalmente intencional, mas foi sendo construído. As músicas que escrevo representam alguma experiência ou ensino que a vida me dá. Ao reunir todas as composições, percebi que uma história estava sendo formada, uma viagem, um evento com vários climas, o que me levou a escrever uma sinopse do álbum semelhante a um filme.

A maioria das músicas que escrevo, imagino com uma formação, um certo personagem, uma certa cor. Alguns já estavam compostos, outros que escrevi com o grupo já formado. As músicas acabaram tomando forma com a interpretação e as sugestões dos meus colegas: isso foi genial.

WG – O projeto tinha como base trabalhar no formato de quinteto? Como foi a escolha dos músicos?

DP – A ideia sempre foi um quinteto, mas quando se tratava de ensaiar a música, fizemos pouco a pouco. Foi bom poder colocar toda a energia em cada estágio do trabalho. Primeiro, nós ensaiamos muito em trio. Ouvindo a base, pensávamos nas formas dos temas, como eles poderiam se conectar. Em seguida, os saxofones foram adicionados e isso lhe deu muita força. Era como cozinhar um prato aos poucos, um ingrediente de cada vez.

Quanto à escolha, além de serem músicos incríveis, meus colegas são pessoas com quem eu acho confortável tocar e que considero essenciais, para propor e construir música espontânea. Com Andrés Chirulnicoff (doublebass) e Marcelo Lanouguere (sax tenor), tocamos juntos por muitos anos em outros projetos. Com Pablo Moser (sax tenor e soprano) e Mono Valle (bateria), começamos a tocar nesse grupo, que já é 3 anos mais velho e uma sociedade musical foi construída. Por outro lado, Andrés e Mono também são base rítmica em outros grupos; eles se entendem muito bem…

WG – Você já conhece o produtor Matthew Golombisky? Como se deu o processo de gravação, mixagem e divulgação?

DP – Conheci Matthew por acaso em um show e é claro, conversamos sobre música. Depois de um certo tempo, concordamos em trabalhar juntos o projeto Retoñar com a gravadora Ears and Eyes Records, o que me deixa orgulhoso e muito feliz. É um ótimo selo com muitos artistas incríveis em seu catálogo.

Gravamos o álbum em 11 de novembro do ano passado, em uma tarde no Estudio Insigno. Tive a sorte de trabalhar com pessoas muito talentosas. Os engenheiros de gravação foram Francisco Amenábar e Lautaro Arroyuelo, com quem eu já havia gravado um álbum de rock no próprio Insigno e porisso foi ótimo para mim essa escolha. A mixagem foi feita por Mariano Otero, uma pessoa que eu respeito muito, por toda a música que ele fez como compositor, intérprete e produtor. O conceito que ele adotou para mixar foi para mim um grande aprendizado.

A masterização foi feita por Pablo Lopez Ruiz, um engenheiro de gravação incrível com muita experiência, ele gravou e mixou discos de jazz incríveis e também outros gêneros. Quando essa situação de pandemia ocorreu, decidimos fazer um lançamento digital em junho, o que está sendo uma experiência muito interessante e nova para mim. O disco está disponível no Bandcamp. Pode ser baixado nomeando o preço que todo mundo quer ou também de graça.

WG – Como está se virando nesses tempos de agora: lives, aulas, compondo, criando arranjos? que projetos pensava em desenvolver e teve que mudar de direção?

DP – Como eu estava lhe dizendo, a ideia deste ano foi fazer os shows de apresentação do álbum e lançar o álbum fisicamente em outubro ou novembro. Essa situação nos levou a avançar a data de lançamento até junho e fazer um lançamento digital exclusivo com a possibilidade de comprá-lo no Bandcamp. Por outro lado, tive shows com outros grupos que foram cancelados. Por enquanto dedico meu tempo para ensinar, estudar o instrumento, transcrever, compor e, acima de tudo, tenho muito tempo para ouvir discos e novas músicas que são incríveis.

 

Retoñar – Bandcamp

https://danpocetti.bandcamp.com/